Leilão 222 Arte Africana - Colecção Eng. Elísio Romariz dos Santos Silva | Antiguidades e Obras de Arte, Livros Antigos, Arte Moderna e Contemporânea
Por Cabral Moncada Leilões
25.9.23
Rua Miguel Lupi, 12 A/D . 1200-725 Lisboa Portugal

Exposição:

18 de Setembro (2ª feira) a 24 de Setembro (Domingo) - 14h às 19h

O leilão terminou

LOTE 18:

Quatro pentes diversos

Vendido por: €320
Preço inicial:
200
Preço estimado :
€200 - €300
Comissão da leiloeira: 24.6%
identificações:

Quatro pentes diversos
madeira
decoração esculpida e entalhada "Motivos geométricos e antropomórficos"
Angolanos - Tshokwe (povos aparentados)
séc. XX (meados)
faltas e defeitos, patine de uso
adquiridos: dois em Luena em 1965 e 1970; um em Lumeje em 1967; e outro no Munhango em 1966
Dimensões (altura x comprimento x largura) - (o maior) 19 cm
Notas: Proveniência: Colecção Eng. Elísio Romariz dos Santos Silva

estes pentes correspondem às peças com os números 5, 81, 82 e 83 referidas no caderno de apontamentos do coleccionador «Angola - Arte Negra, Relação e descrição das peças». A peça nº 5 é neste caderno identificada como «Pente Txissaculo - pl - Issaculo», as peças nº 81, 82 e 83 são identificadas, cada uma, como «Txissaculo».

Relativamente à peça com o nº 5 é referido que a: "A pega, de forma hexagonal tem, na face anterior, gravada uma cara (dois olhos, nariz e boca) e, contornando os lados do polígono, dois sulcos; na face posterior desenhos geométricos: duas linhas de pequenos rectângulos limitados do lado superior por três sulcos e pelo inferior por quatro. A face anterior da travessa é ornamentada por um desenho designado por «Caputita» ou «Tupuita», muito usado na tatuagem. O abade Brevil interpretou-o como sendo a representação esquemática da mulher. H. Baumann, que o encontrou em quase todos os bantos de África, interpreta-o como o homem e a mulher em cópula. Na face posterior, o rectângulo é dividido pelas suas diagonais e os triângulos formados são ornamentados por sulcos, uns verticais e outros paralelos a uma das diagonais. [...] Peça adquirida a uma mulher Luena, na sanzala do Soba Nacalunda, lado sul da concentração de populações do Lumeje, em 30. Maio. 1970 [...].
Cf. bibliografia referida pelo coleccionador: LIMA, Mesquitela de - "Tatuagens da Lunda". S/L: Museu de Angola, 1956, pp. 37-38.
O nº 81 é descrito contendo "Travessa decorada com incisões encimada por uma haste que tem no seu topo uma cabeça esculpida. [...] Adquirido em Luena em 1965 [...].
A peça com o nº 82 é descrita, contendo uma "Travessa decorada com face anterior com incisões representativas de «Cauris», encimada por uma haste com uma cabeça esculpida. [...] Adquirida no Lumeje em 1967 [...]."
O nº 83, é referido no caderno de apontamentos, contendo uma "Travessa decorada com incisões, encimada por haste com uma cabeça esculpida.  [...] Adquirido no Munhango em 1966 [...]."
"Instrumentos musicais, pentes, cachimbos, machados e bancos finamente trabalhados podem incluir motivos figurativos e/ou abstractos elaborados e pertencer a quem possa dar-se ao luxo de os obter" - cf. JORDÁN, Manuel - "Os Tshokwe e Povos Aparentados". In "Na presença dos Espíritos - Arte Africana do Museu Nacional de Etnologia, Lisboa". Lisboa: Museu Nacional de Etnologia, 2000, pp. 92 e 114-115.
"Os pentes de feitura nativa são ainda muito vulgares no Nordeste da Província, até porque a sua utilidade se intensificou bastante nas últimas dezenas de anos, devido ao desuso dos antigos toucados de argila vermelha, que dispensavam o cuidado diário com o penteado. O abandono deste tipo de toucado influiu também no desuso dos pregos de cabelo, agora substituídos pelos pentes.
Os cabelos ulótricos dos africanos prestam-se admiravelmente às mais variadas fantasias de toucado, e o pente apresenta-se, por isso, numa peça de muita utilidade. Serve também de adorno, cravado em adequado jeito, no cabelo.
Por este motivo é frequente que as travessas dos pentes apresentem mimosas decorações entalhadas, algumas vezes com abertos, por outras encimados por pequenas representações de cabeças de mulheres, figurinhas humanas em corpo inteiro, aves e outros motivos.
Encontram-se dois tipos de pentes: os de varinhas de bordão presas entre si por fibras de cajana (espécie de junco), e os de madeira, inteiriços, com os dentes talhados a partir de uma travessa poupada que lhes serve de base." - cf. REDINHA, José - "Album Etnográfico Portugal-Angola". Luanda: C.I.T.A, 1971, pp. 26-27.
Outros pentes encontram-se representados em SANTOS, Soraia Ferreira (coord.) - "A Herança Secular dos Povos do Sul de Angola". Lubango: Museu Regional da Huíla, 2018, p. 129, nº inv. 2004.R.25; em DIAS, Jorge (direc.) - "Escultura Africana no Museu de Etnologia do Ultramar". Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1968, s/p, nº 157; em JORDÁN, Manuel. “Chokwe!- Art and Initiation Among Chokwe and Related Peoples”. Munich/London/New York: Prestel-Verlag, 1998, s/p, nº 52; em BASTIN, Marie-Louise. "La sculpture Tshokwe”. Arcueil: Alain et Françoise Chaffin, 1982, p. 242, nº 164; e no catálogo do leilão realizado a 1 de Fevereiro de 2023 na Lempertz "Art of Arfrica, the Pacific and the Americas". Brussels: Lempertz, 2023, lote 46.