Leilão 474 História & Arte
Por Ecléctica Leilões
30.9.22
Rua Luísa Todi 12G | 2925-568 Azeitão, Portugal
O leilão terminou

LOTE 19:

VASCONCELOS (Pe. Simão de). CHRONICA da Companhia de Jesv do Estado do Brasil. Lisboa, 1663.

Vendido por: €3 200
Preço inicial:
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€3 000 - €6 000
Comissão da leiloeira: 16%
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VASCONCELOS (Pe. Simão de). CHRONICA da Companhia de Jesv do Estado do Brasil. Lisboa, 1663.
VASCONCELOS (Pe. Simão de)
CHRONICA da Companhia de Jesv do Estado do Brasil. e do qve obrarão sevs filhos nesta parte do novo mundo. Tomo primeiro da entrada da Companhia de Jesv nas partes do Brasil e dos fvndamentos qve nellas lançárão, & continuarão seus Religiosos em quanto alli trabalhou o Padre Manoel da Nobrega Fundador, & primeiro Prouincial desta Prouincia, com sua vida, & morte digna de memoria: e Algvãs notiicias antecedentes curiosas, e necessarias das cousas daquelle Estado. Lisboa: Na Officina de Henrique Valente de Oliveira, 1663.

+4, ++2, A-Y4, Z1, a2, A-Z, Aa-Zz. Aaa-Vvv, a4, b2; portada, [6], 178, 185-188, 528, [12] pp.; 350 mm. EXEMPLAR COM OS FÓLIOS 179-184 DOS QUAIS APENAS SOBRARAM 10 EXEMPLARES (ver nota na descrição); com falta do primeiro fólio de texto; desencadernado; segunda parte mais aparado que a primeira; acidez.

PRIMEIRA edição da que é considerada por muitos bibliógrafos como uma das mais belas produções dos prelos portugueses do século XVII e de uma “fonte perene de notícias e subsídios para a História do Brasil e das Missões Religiosas que, durante os anos 1549 a 1570, pregaram e difundiram a fé cristã entre os indígenas dessa vastíssima região americana” [Samodães].
Inocêncio diz: “É uma das melhores edições d’aquele século, tanto no que diz respeito à grandeza e consistência do papel, como no tocante à beleza dos caracteres de impressão”. O trabalho tipográfico, emprega belíssimos caracteres romanos e itálicos de vários corpos, possuindo como elementos decorativos capitulares, florões de remate e vários cabeções formados de pequenas vinhetas.
A bonita portada foi gravada por Albert Clowet, natural de Antuérpia, discípulo de Bloemaert em Roma. Aberta a buril em chapa de cobre, contém uma moldura formada por duas árvores sobre as quais se vêem frutos e animais domésticos. No centro uma caravela sobre um trecho de mar, tendo inscrito na popa as letras IHS e na vela mais à esquerda os dizeres “VNVS NON SVFFICIT ORBIS”. No primeiro plano, numa peanha, sobre a qual estão instrumentos náuticos, abre-se o nome da obra e do autor.
Escrita em duas partes: a primeira relata o descobrimento do Brasil, a descrição geográfica das suas terras, costas, rios, portos, cabos, enseadas e serranias fronteiras ao mar, responde às perguntas “Quem foram os primeiros progenitores dos Índios, em que tempo entraram no Brasil, de que parte vieram, por onde e de que maneira entraram e como não conservaram as suas cores, línguas e costumes”; a segunda parte trata exclusivamente da Companhia de Jesus no Brasil desde 1549. Possui ainda a primeira impressão do poema de José de Anchieta sobre a Virgem Maria.
O Padre Simão de Vasconcelos teve algumas dificuldades em conseguir publicar esta sua obra. Essa dificuldade resulta do facto do Pe. Jacinto de Magistris, Visitador do Brasil, não se relacionar muito bem com o autor da obra, seu concorrente quando da nomeação para Visitador. Apesar de ter as aprovações canónicas de três revisores e do Padre Geral, o Visitador tentou impedir a impressão, fundado nas opiniões dos Padres António Vieira, Baltazar Teles e Manuel Luís que atestavam na falta de estilo do Pe. Simão de Vasconcelos. Mas a aprovação de Francisco Brandão, cronista-mor do Reino fez terminar a questão.
Não satisfeito, o Pe. Jacinto de Magistris informou desfavoravelemente o Padre Geral sobre os últimos sete capítulos da primeira parte da Crónica que respondia com a explanação se o paraíso não seria na América portuguesa. Apesar de já ter dado aprovação, o Padre Geral mandou riscar essa parte. Quando a ordem chegou a Lisboa, já Henrique Valente de Oliveira tinha impresso dez exemplares que o Pe. Simão de Vasconcelos distribuiu pelos amigos. Por ser a conclusão das Notícias Antecedentes, o Pe. Jacinto de Magistris não via dificuldade em se suprimirem os sete capítulos, substituindo-os por uma página final. Esta ordem deve ter sido muito bem executada pois ATÉ HOJE NÃO APARECEU NENHUM DOS EXEMPLARES IMPRESSOS COM ESSAS PÁGINAS CENSURADAS, até ao presente exemplar que as possui. Esta é a razão porque faltam as folhas numeradas de 179 a 184.

¶ Brunet, II, c. 846; Palha, 2517; Pinto Matos, p. 554; Samodães, 3443; Inocêncio, VII, p. 286; Travel and Exploration, 1127; Bdm2, p. 888; H. Grav. Artistica, I, n. 504