Leilão 4 Parte 2 Leilão de Antiguidades
Por Leiloeira Serralves
15.6.22
Rua Serralves, 1080/1084, Lordelo do Ouro, 4150-705 Porto, Portugal

Exposição:

6 a 11 de Junho das 10h00 às 13h00 e das 15h00 às 20h00

13 de Junho das 15h00 às 20h00

O leilão terminou

LOTE 640:

ARTUR LOUREIRO (1853-1932)

Vendido por: €5 000
Preço inicial:
5 000
Comissão da leiloeira: 16%
IVA: 23% Sobre a comissão apenas
15.6.22 em Leiloeira Serralves
identificações:

ARTUR LOUREIRO (1853-1932)

MISÉRIA” – Interessantíssimo óleo sobre madeira, desta representação do interior de uma casa rural, trabalho do Mestre Artur Loureiro do início da segunda década do século XX. Esta brilhante vista de interior é constituída em primeiro plano por uma figura feminina sentada à soleira da porta de olhar fixo e de expressão melancólica, com o braço esquerdo descaído e a sua mão apoiado sobre os joelhos. Em segundo plano, já no interior da casa, figura masculina ligeiramente curvada e sentada num banco de perfil lateral, com o cotovelo apoiado sobre o joelho e a sua mão direita apoiada à cabeça, numa expressão dolorosa e de pobreza. Ao seu lado direito encontra-se a sua mesa de trabalho e uma canastra. Do seu lado esquerdo uma bancada com torno manual em madeira e braço de aperto em ferro. Em terceiro plano, destacamos ao fundo uma janela aberta onde surge a imensa luz solar que dá contraste flagrante ao seu interior, sobre as sombras que envolvem esta quadra triste. Sobre o parapeito da janela encontra-se sentada uma criança a olhar para o campo verdejante e colorido. Obra assinada e datada na parte lateral esquerda por monograma [AL // 1912]. Pintura em óptimo estado de conservação, com a limpeza já efectuada por especialista nesta área. Moldura da época em madeira e gesso dourado, ornamentada em relevo na parte frontal com concheados, ramagens e motivos florais.

Dim: 47x29,9 cm (Óleo)

Dim: 63,5x47 cm (Moldura)

 

Observação textual e importante – No catálogo da exposição realizada no Museu Nacional de Soares dos Reis de 17 de Dezembro de 2010 a 24 de Abril de 2011, com o título «Artur Loureiro // 1853-1932», vem na página Nº 38/39 o seguinte texto referente a esta obra. «Na exposição de 1912 Loureiro apresentou novos trabalhos feitos em Vila Real e alguns aspectos de interiores domésticos, bem raros na obra deste pintor de ar livre, como já anteriormente foi referido, nomeadamente Dia de Festa, salientando pela modelação da figura central e pela luz que a ilumina e Trevas e Miséria. Miséria obra não localizada nem identificada, mas cuja descrição nos faz relacioná-la com a Cena de interior com figura de menina datada do ano anterior. A descrição do jornal «O Primeiro de Janeiro // 10-05-1912» fala-nos da representação do interior de uma casa desconfortável onde se vê, sentada na soleira da porta, uma rapariga “vestida com excelente nobreza” e, a um lado do aposento, “um operário precocemente envelhecido”. “A scena é simples mas impressiona deveras. A luz clara que ao fundo entra pela janela aberta para um campo cheio de sol, dá um contraste flagrante às sombras que envolvem a quadra triste”».

 

Nota: Artur José de Sousa Loureiro – Notável pintor portuense, nasceu na Rua do Bonjardim, no Porto, a 11 de Fevereiro de 1853 e faleceu em Terras de Bouro (Gerês), a 7 de Julho de 1932. Começou por estudar Desenho e Pintura com o Mestre e amigo António José da Costa, tendo depois ingressado na Academia Portuense de Belas-Artes, onde continuou a sua aprendizagem com João António Correia. Em 1873 concorreu ao pensionato em Paris, do qual viria a desistir em favor de Silva Porto. Em 1875 voltou a concorrer a pensionista, desta vez para Roma, rivalizando com Malhoa e ficando empatado com o seu oponente. A prova foi anulada, mas Artur manteve a viagem com o patrocínio de Delfim Guedes, futuro conde de Almedina, seu patrono. Na capital romana ingressou no Círculo Artístico, em 1876. Em 1879 o artista voltou a candidatar-se a bolseiro em Paris, juntamente com Columbano, ficando classificado em primeiro lugar. Na capital francesa viveu no Quartier Latin e frequentou a École des Beaux-Artes, onde foi discípulo de Cabanel. Durante este período expôs no Salon parisiense (de 1880 a 1882), ao lado de artistas como Marques de Oliveira, Silva Porto, António Ramalho,  Sousa Pinto, Columbano e João Vaz, e na Galeria Goulpil, em Londres. Teve tempo para se apaixonar, ligando-se sentimentalmente a uma australiana, Marie Huybers. Em 1884, fisicamente debilitado, emigrou para a Austrália, fixando-se em Melbourne. Nesse lado do mundo, integrou, com outros 8 artistas, a Australian Art Association (1885) que, depois, se fundiu com a Victorian Artist’s Society (1888); lecionou Desenho na Presbyterian Ladies Academy; vendeu obras aos endinheirados patronos locais; recebeu prémios; integrou júris; foi Inspector da Galeria Nacional da Cidade de Vitória e teve dois seguidores: Constable e Mrs. Melba. A sua obra teve reconhecimento internacional. Ficaram famosos os quadros A Visão de Santo Estanislau de Kostka, que obteve a Medalha de Ouro da Galeria Nacional; a obra Os Tigres, que, em Londres, alcançou uma Medalha de Ouro e foi adquirida pela Galeria Sanderston; o retrato de Alderman Stewart da Câmara de Melbourne; os painéis decorativos de uma casa particular, intitulados As Quatro Estações,  Íris e A Cruz do Sol; o Santo António da Catedral de Melbourne; e A Morte de Burke que, em 1889, recebeu a Medalha de Ouro na Exposição Internacional de Londres.

No início do século XX regressou em definitivo ao Porto, empenhando-se no fomento das artes. Na sua cidade natal montou, então, um atelier-escola, numa ala do já desaparecido Palácio de Cristal, o qual se tornou um espaço de referência, procurado por aspirantes a artistas e admiradores do pintor. Aí ensinou, pintou e expôs. Nesta fase, expôs na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa (1920), na Galeria da Misericórdia do Porto (1923) e no Salão Silva Porto (1929), na cidade Invicta. Um auto-retrato do pintor apresentado neste último certame foi comprado pelo prestigiado Museu dos Uffizi, de Florença. Obras suas integram o espólio de museus portugueses e estrangeiros como o Museu de Évora, o Museu do Chiado, em Lisboa, o Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, o Museu Grão Vasco, em Viseu, a Galeria de Sanderstan e a Galeria Nacional de Melbourne. Ref. Biog. Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses. [pág. 241 a 244 // Michael Tannock. [pág.94]. Catálogo da exposição realizada no Museu Nacional de Soares dos Reis em 17 de Dezembro de 2010 a 24 de Abril de 2011, com o título «Artur Loureiro // 1853-1932».