Colcha (ou pano de armar)

Colcha (ou pano de armar)
Lusíada
algodão bordado a seda em tons de vermelho sobre fundo beige "Pelicano em sua piedade, cenas de montarias, animais, aves e sereias tocando instrumentos musicais"
vertente Indo-Portuguesa - provavelmente Cambaia
séc. XVII (1º quartel)
restaurada, forro substituído
Dim. - 290 x 223 cm
Notas: acompanhada de relatório de restauro feito no Museu do Oriente realizado por Eva Armindo. Vd. Reynaldo dos Santos in "Oito séculos de Arte Portuguesa", Empresa Nacional de Publicidade, vol. III, p. 205, fig. 277. «”campo com medalhão central” – O tema das montarias, das cenas marítimas e o motivo dos dragões aparecem na composição de outro tipo de colchas indo-portuguesas tratados de forma diferente daquela que acabamos de ver nos exemplares de padrão de faixas. Na composição desse género de bordados o campo tem medalhão central circular, tangente nos lados, e barras largas nas cabeceiras; faixas estreitas dividem as diferentes partes do campo e circundam a cercadura. A colcha no. 9 do Catálogo ostenta no centro o pelicano a ferir o peito para alimentar os filhos. Na composição da cercadura do medalhão os dragões revelam influência de modelo ocidental; a figuração humana aparece de corpo inteiro representada por uma mulher desnuda e suspensa sobre uma flore; o motivo pode derivar da iconografia da deusa Laskmi, mulher de Vishnu. Nas barras das cabeceiras ornatos animalistas estilizados, figuração humana, pavões e decoração exuberante de flores formando enrolamentos; note-se que os mesmos motivos compõem as cercaduras laterais do bordado indiano (nº1, Cat.). Nos cantos, mascarões com pendentes florais. Na cercadura desenrolam-se cenas de caça ao veado e ao javali. Os cavaleiros trajam à moda portuguesa do 1º terço do século XVII; chapéus de copa alteada, aba larga e semi-rígida com pluma, gibão de mangas rocadas nos ombros; trazem o cabelo curto e as golas encanudadas que se usaram até cerca de 1630; estão armados de lanças e levam os seus cães. Entre os cavaleiros vai um trajando à moda oriental, a cabeça coberta por uma coifa pontiaguda. Os eixos centrais da cercadura são ocupados por árvores, com pássaros e carregadas umas de flores outras de pinhas, símbolo da fecundidade. Nos cantos repete-se os motivos dos mascarões. As faixas que dividem a composição são preenchidas por dois padrões de ornatos de estilização geométrica, numa disposição alternada e ondulante. A colcha é bordada a pesponto e diversos pontos de fundo em seda vermelha e amarela sobre duas telas de algodão branco, acolchoadas com pasta de algodão; fundo coberto por uma rede de losangos pespontados em seda branca. Franja e borlas de seda nas cores do bordado. Dimensões: comp. 288 x larg. 202cm. A peça pertence ao fundo antigo do Museu, sendo proveniente dos conventos extintos. Da composição deste bordado não faz parte o tema das cenas marítimas mas numa colcha do mesmo género, existente no Museu Victoria e Alberto de Londres, aparecem caravelas portuguesas levando hasteada a bandeira das quinas; essa colcha ostenta no centro o brasão de armas da família Lima (Viscondes de Vila Nova de Cerveira) (25). Este género de colcha difere nitidamente dos exemplares que foram agrupados sob a designação de tipo de faixas. O desenho acusa influencia ocidental e a técnica do bordado dá a estas peças um aspeto peculiar que lembra, de certo modo, os trabalhos de gravura em metal ou em pele. Veja-se o traço incisivo e regular com que são executados os mínimos pormenores de elaborada minúcia, as plumas dos cavaleiros, as cerdas e imbricados dos corpos dos animais, as linhas das fisionomias, os contornos da folhagem, etc.» Maria José Mendonça «Alguns Tipos de Colchas Indo-portuguesas na Coleção do Museu Nacional de Arte Antiga» in Colchas Bordadas do Museu Nacional de Arte Antiga/ Índia Portugal China/Séculos XVI/XVIII, Lisboa M.N.A.A., 1978.